Cronicando no mesmo dia sobre...
Estava uma anciã cortada, amarada nas suas próprias guerras, boca suja, preta cabeça desmatada, gentes da outra parte do mundo bem enfeitadas a espreitava. Ver e observar não é la muito pessoal quando se despe a mulher com o seu tamanho, o importante é preservar a nudez e o que se encontra para la do que se sente nas profundezas do mundo negro. Como é lindo ler o poema de Neruda sobre negros, não inventaram a pólvora, mas temperaram o mundo. É preciso sentir.
Só sentir não pode ir até tesão, é demasiado particular, tesão sentida é também muito pouco pessoal, nada fixo. A mulher está de saia velha, com cores verdes, matas queimadas, sinais de homens violentos, se destaca na ponta da sua cabeça um lenço com imagem de alguns detratores ditadores, lá em cima, são frágeis esses homens, têm amor, odor e um certo desgosto pelo povo.
O amor é frágil e o urubu só cultiva a paciência quando a morte mingua a vida. A mulher esta em frente ao edifício da ONU, e me lembra o meu pai quando foi para a guerra e conheceu o seu ditador, o seu melhor amigo veio a morrer e só descobriu o seu nome na campa como o antigo grande colonizador.
O meu pai ainda esta profundamente marcado na sua identidade e a mãe
há já alguns dias que saiu de casa, chegou ao edifício da ONU. Pessoas cochicham,
e ordenam a um preto de nome para enfrentar a mulher. Caminhou muito, parece
que fez o mesmo percurso da Lucy, a mulher que saiu do seu corpo até enfeitar o
mundo, quando o mundo fica pesado e cheio dos passos dos homens é o corpo dela
que se estende e até deus se cochicha.
-É ela, é ela.
A mulher continua em frente
do edifício da ONU. Vem o funcionário preto e pergunta o que ela quer, a
senhora, suja de boca cortada manteve no local, lembrando o lirismo dos seus
poetas e dos seus loucos, mas também o lirismo da libertação e outras cancões
de Felá Kuti e tantos outros como Luke Dube. Ela não mexe nem a pestana.
- Meu filho a esperança me
anda a matar. A mulher continua de boca com poesia, com aqueles fulanos de
kalatxinikov, pedaços de congoleses, machos, fêmeas e famílias decepadas,
alunos e professores no seu colarinho preto, desenhos na gravata com cheiro a
crude e peixes roubados, mas cheiram fritos, bem-ditos e com malaguetas
cultivados nas hortas de Luanda a Cubango, estavam todos la, na cara lhe caia o
lago, e a frente dela chegou o presidente da ONU, mal fosse o lago da vitoria.
-Mas senhora o que queres na
portada da ONU?
- Senhor Guterres, eu quero os
meus filhos mortos, os recentes e os antigos.
- Senhora africa, é africa nê?
Então vamos manter a esperança.
-Senhor, eu quero enterra-los,
o mar mediterrânio é demasiado fundo e sereno para nós, é que os meus filhos são
pretos ora!
-Senhora vá para a cidade,
vá para Disney, procura visitar as coisas que o seu filho deixou a seus filhos
para que os filhos de hoje pudessem usufruir das aventuras assassinas dos seus
antigos filhos para podemos viver desses bons préstimos dos antigos nossos
pais.
-A cidade nos vê com olhos
esfomeados, e esses teus vizinhos nossos filhos ainda têm fome, capitalismo
anda, neoimperialismo caminho, não precisam de estado. A cidade nos esvazia quando caminhamos em
cima dos buracos, nas estadas e passadeiras, é preciso denuncia-los aos deuses,
mas, provavelmente estão demasiados ocupados para esse assunto.
O presidente da ONU se
ausentou e nomeou o seu assessor para assumir os assuntos candentes da senhora.
Em troca propuseram envelhecer a felicidades da senhora, com Yale, programas
abstratos de fazer um mudo paciente, falatórios e carnes de boys para
aprenderem a dormir.
A senhora se revelou.
- Eu sou a africa! Eu sou a personagem maior no mundo que quer morrer e se recusa a morrer, mas o meu sonho inclusive é matar os meus filhos e acabar com tudo, foi daqui que eles partiram. São 54 filhos que não deveriam reexistir desta forma. São 54 cartas que é necessário refazer e se possível esquecer a tal divisão do meu corpo.
Eu
tenho virgindades ainda para ser operada. Antes, quem recusou a morte foi eu,
não jesus. Vocês não me dão os meus filhos?
Eu os quero para poder
enterra-los, que quero os meus filhos mesmo os de bocas brancas e negras.
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